Os cuidados têm que começar assim que a pessoa nasce, uma vez que os primeiros 15 anos de vida são decisivos. “A criança ainda não tem o sistema de pigmentação totalmente desenvolvido e a sua pele bronzeia com mais dificuldade que a do adulto”, explica João Amaro, dermatologista do Instituto Português de Oncologia. Uma exposição abrupta ao sol “pode provocar lesões e danos no ADN, isto é, no material genético do núcleo das células”. Estas lesões nem sempre se manifestam imediatamente. “É possível essa alteração genética manter-se latente e, dez ou 20 anos mais tarde, aparecer um melanoma, o tipo de cancro da pele mais perigoso”. Pelo sim, pelo não, o melhor é evitar que os bebés durante o primeiro ano de vida, recebam sol directo, fugindo, literalmente, da praia durante as horas de maior calor, entre as 10.30 e as 17.30. À medida que a criança vai crescendo, já se pode deixá-la chapinhar na água ao fim da tarde, desde que esteja protegida por uma t-shirt, um chapéu e um protector solar adequado, que tem de ser regularmente aplicado.
Prevenções naturais
Em relação aos adultos, correm mais riscos aqueles que vivem em meios urbanos e só pontualmente se expõem ao sol.
O corpo humano possui dois mecanismos naturais e eficazes contra as agressões solares, mas precisa de tempo para os pôr a funcionar em pleno. Por um lado, o organismo reage produzindo melanina, um pigmento que funciona como um “chapéu” que protege o núcleo das células e tem a capacidade de absorver as radiações ultravioletas emitidas pelo sol. É da acção da melanina que resulta a cor bronzeada. Para além disso, o contacto gradual com a luz solar produz um espessamento da pele, tornando-a mais resistente.
As secreções sebáceas normais também hidratam naturalmente a pele, tornando-a mais elástica. Por isso mesmo, os banhos prolongados são desaconselháveis antes de ir para a praia. Segundo João Amaro, deve optar-se por “um duche rápido e colocar imediatamente o protector solar, para sair de casa já protegido”. A mesma regra se aplica para as férias que incluam visitas a piscinas ou mergulhos em águas fluviais. O cloro utilizado pelas piscinas torna o meio aquático mais agressivo, pois seca a pele e remove o protector solar. A água do mar, desde que não esteja poluída, é a melhor para mergulhar nas férias, uma vez que a sua riqueza em sais minerais a torna muito semelhante ao soro fisiológico.
De qualquer forma, tomar banho na praia não significa estar protegido das radiações solares, uma vez que estas são apenas parcialmente reflectidas pela água do mar. Por isso mesmo, é importante escolher um protector solar resistente à água ou renovar a aplicação assim que o banho terminar. Quem pratica desportos como surf, body-board ou pesca submarina, precisa de utilizar fatos adequados, que protejam convenientemente das queimaduras solares.
Simples e eficazes
Na praia, os adultos devem ter sempre presente as protecções simples, mas eficazes. As mulheres que sofrem de varizes nas pernas podem colocar uma toalha húmida sobre as pernas ou optar por passear à beira-mar com a zona dos joelhos para baixo dentro de água. A sombra, os óculos de sol, as t-shirts e os chapéus de abas largas, que protejam zonas sensíveis como o nariz, as orelhas e o pescoço são também essenciais. “É errado a pessoa besuntar-se de protector solar da cabeça aos pés e julgar que pode estar todo o dia de papo para o ar ao sol”, afirma João Amaro. “O protector solar deve ser encarado como um complemento dos outros métodos, não se podendo confiar inteiramente nele”.
Nas horas de sol mais intenso, entre as 11.00 e as 16.00, deve evitar-se a exposição directa, especialmente nos primeiros dias de praia. O processo de bronzeamento deve ser sempre gradual, para evitar os escaldões. As horas de sol mais benéficas são as do fim de tarde, uma vez que depois das 16.00 as radiações ultravioletas predominantes são as do tipo A, menos perigosas que as do tipo B. Quem opta por ir à praia nas últimas horas do dia consegue um bronzeado mais estável, duradouro e bonito, ao mesmo tempo que minimiza as agressões que podem dar origem ao cancro da pele.
Independentemente das horas escolhidas para estar na praia, é importante que se coma fruta e beba muitos líquidos, principalmente água e sumos naturais de cenoura, alperce, pessego e manga, pois possuem propriedades antioxidantes que protegem o organismo.
Solários polémicos
Quem prefere bronzear-se recorrendo a um solário todo o ano, deve também tomar precauções. “Está provado que há um aumento do risco de aparecimento de cancer de pele com o uso frequente do solário”, esclarece João Amaro. Apesar de a maioria da radiação emitida artificialmente ser do tipo A, uma percentagem pequena é do tipo B, a mais cancerígena. O dermatologista alerta para o vazio legal que rodeia os solários e permite o seu funcionamento sem técnicos especializados a manusear as máquinas de bronzear.
Para o dermatologista “é evidente que, se uma pessoa tiver uma exposição criteriosa e bem orientada, pode obter uma cor agradável sem danificar muito a pele”. Contudo, “enquanto a luz solar reúne as várias percentagens de radiações em quantidades equilibradas, as lâmpadas do solário têm as radiações muito concentradas e os efeitos são diferentes”. Razões suficientes para João Amaro aconselhar uma exposição gradual e não superior a três vezes por semana, sempre sob a supervisão de um técnico especializado. Modas perigosas
Em tempo de férias, João Amaro lembra um perigo que a maioria das pessoas despreza. “Com as viagens aos trópicos, às Caraíbas e ao Nordeste Brasileiro em moda é preciso redobrar os cuidados. No Verão, o índice de ultravioletas máximo em Portugal é 9, mas nas Caraíbas chega aos 16, sendo por isso muito mais perigoso”. Mais vale voltar um pouco menos bronzeado do que com um escaldão que possa ter consequências nefastas no futuro.
Por muitos cuidados que se tenha, de vez em quando o pior acontece e a pele avermelhada torna-se uma realidade dolorosa. Nesse caso, o melhor é “ir para casa, tomar um duche de água fresca e depois espalhar no corpo um leite corporal hidratante, que ajude a pele a recuperar do choque sofrido”.
Que protector solar escolher?
Nos últimos 10 anos, a oferta de protectores solares sofreu um crescimento exponencial e a qualidade dos produtos também melhorou muito. O mais difícil acaba por ser escolher o mais adequado. O protector solar ideal deve ser eficaz contras as radiações ultravioletas do tipo A e B, vulgarmente designadas por UVA e UVB. Por outro lado, tem que ser fotoestável, ou seja, resistente ao sol – caso contrário pode degradar-se e provocar alergias, ao mesmo tempo que perde eficácia.
Os outros dois aspectos a ter em linha de conta é a resistência à água e o factor de protecção do filtro solar incluído. O número que surge na embalagem do protector solar a seguir à sigla IP ou FP refere-se à quantidade de energia solar que a pele tolera com protecção. Assim, se uma pessoa de pele morena, com um tempo de protecção natural igual a 20 minutos, aplicar um protector solar de factor 9, basta fazer a multiplicação de 20 por 9 para se concluir que vai poder estar 180 minutos ao sol, sem correr o risco de queimar-se. Estes cálculos aplicam-se à generalidade das pessoas, mas cada caso é um caso.
Conheça a sua pele e saiba protegê-la
Para saber escolher um protector solar adequado, é necessário que identifique o seu fototipo, ou seja, o grau de resistência da sua pele à luz do sol. Utilize a tabela fornecida pela Liga Portuguesa Contra o Cancro e procure, depois, a protecção que necessita no quadro mais abaixo.
Os seis fototipos de pele
FOTOTIPO I – Cabelos louros ou ruivos, olhos azuis ou esverdeados, pele muito clara e extremamente sensível. Apanha facilmente escaldões ao Sol. O bronzeamento é muito lento. Tempo de autoprotecção da pele: 5 a 10 minutos.
FOTOTIPO II – Cabelos louros, olhos azuis, pele clara. Fica facilmente vermelha ao sol. Bronzeia-se ligeiramente e com dificuldade. Tempo de autoprotecção da pele: 10 a 20 minutos.
FOTOTIPO III – Cabelos castanhos, pele clara, olhos claros ou escuros. Bronzeia gradualmente. Apanha, por vezes, escaldões. Bronzeamento pronunciado, à medida que a pele se habitua gradualmente ao sol. Tempo de autoprotecção da pele: 20 a 30 minutos.
FOTOTIPO IV – Cabelos castanhos ou pretos, pele morena e olhos escuros. Pele pouco sensível, raramente sofre queimaduras. Bronzeia facilmente. Tempo de autoprotecção da pele: cerca de 45 minutos.
FOTOTIPO V – Cabelos pretos, pele escura, olhos castanhos escuros. Pele pouco sensível ao sol. Tempo de autoprotecção da pele: cerca de 60 minutos.
FOTOTIPO VI – Cabelos, pele e olhos negros. Pele bem adaptada ao sol. Tempo de autoprotecção da pele: cerca de 90 minutos ou superior.